Dia 22 de março é comemorado o Dia Mundial da Água. E como o nosso planeta é chamado de Planeta Azul por ser composto de dois terços de água, temos a falsa sensação de que esse elemento é abundante, de que nunca vai acabar. Mas não é bem assim. Sabemos que apenas menos de 1% dessa água é doce e acessível ao consumo humano.
O Brasil detém uma grande parcela de água doce do mundo, cerca de 11%, o que continua nos dando a sensação de água sem fim. Um dos problemas é que esse volume é desigualmente distribuído em relação à densidade populacional, pois 70% dele estão na Região Norte do país, habitada por 4,5% da população e a Região Sudeste, que concentra o maior contingente populacional, dispõe de 6% dos recursos hídricos. Outro ponto é que boa parte dessa água é desperdiçada nos vazamentos das tubulações ao longo das redes de distribuição, nos sistemas de irrigação e há ainda problemas de contaminação.
Somado a tudo isso, a combinação do crescimento muitas vezes exagerado das demandas localizadas e da degradação da qualidade das águas resulta numa situação de escassez hídrica nos centros urbanos. Essa situação é também agravada pelas mudanças climáticas, cujos impactos incluem eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes e intensos, como os períodos de seca prolongada.
Em Jundiaí, a situação não é diferente. A cidade integra a bacia hidrográfica dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ), juntamente com 75 municípios. A disponibilidade hídrica nessas bacias é considerada crítica, já que a disponibilidade per capita de água está bem abaixo das recomendações da Organização das Nações Unidas (ONU). Ainda, parte da água das bacias PCJ é revertida pelo Sistema Cantareira para a bacia do Alto Tietê, que abastece a Região Metropolitana de São Paulo. Jundiaí depende da captação das águas do Rio Atibaia, que passa pela bacia PCJ. Em 2017, a cidade teve a outorga que autoriza essa captação renovada por dez anos. Entretanto, isso não quer dizer que não há com o que se preocupar em relação a essa questão.
Com todas essas variáveis em jogo, o melhor a fazer é planejar e adaptar-se às mudanças que estão em curso e por vir. Assim como fez a cidade de Melbourne, na Austrália. Lá, enfrentam-se desafios de períodos de seca prolongada e períodos de chuvas abundantes, e com isso, enchentes e inundações nas áreas urbanas. A solução encontrada foi captar a água da chuva nos períodos chuvosos e armazená-la para utilização nos períodos de seca, com a construção de reservatórios em pontos estratégicos da cidade. As residências e as indústrias também captam as águas da chuva. Parece uma solução óbvia. E é.
A seca de 2014 na região Sudeste brasileira foi mais um exemplo da falta de planejamento e má gestão, agravada pelas mudanças climáticas. Como voltou a chover e encher os reservatórios, voltou a falsa sensação de que temos água em abundância. Essa sensação é perigosa por dois motivos: primeiro, porque “já que temos água, não precisamos economizar”, e o consumo irresponsável e o desperdício ganham lugar. Segundo, porque “já que temos água, não precisamos fazer nada” e vem a inação por parte dos tomadores de decisão. E assim, esquecemos que para uma gestão efetiva da água é indispensável uma cultura de gestão que preconize o planejamento, o tratamento de esgotos, o controle de perdas, a cobertura vegetal e a conservação do solo e das nascentes. E que é fundamental evitar o desperdício e consumir a água de forma responsável, consciente e racional. (Foto: patiohype.com.br)
* Publicado em http://www.jundiagora.com.br/clima-cidades/, 8 de abril de 2018.